Povo Munduruku

 

Povo Munduruku

Grupo indígena brasileiro do século XVIII, situado nas terras de Cayabi, Munduruku, Munduruku II, Praia do Índio, Praia do Mangue e Sai-Cinza, no sudoeste do estado do Pará; nas terras de Coatá-Laranjal e São José do Cipó, no leste do estado do Amazonas e na Reserva Indígena Apiaká-Kayabi, no oeste do estado do Mato Grosso.

O nome Munduruku significa “formigas vermelhas”, visto que este grupo atacava em massa os territórios rivais.

Mulher Munduruku.
Fotografia: Protassio Frikel, 1950 In Povos Indígenas no Brasil. Web, 2019.
 

Corante vermelho

Os Munduruku distinguem-se pelas tatuagens com o corante vermelho, extraído das sementes da planta conhecida por Urucu ou Urucum (Bixa orellana), também utilizada em medicina tradicional.

Os cestos Munduruku decorados com desenhos feitos com este corante identificam o clã do marido no seio familiar. As cestas para carregar as crianças são fabricadas pelas mulheres e utilizam a cor natural vermelha ou branca para reconhecer a etnia ou clã à qual a criança pertence.

 
Exemplar de Bixa orellana
in Exotics Seeds. Web, 2020. https://www.exotic-seeds.store/pt/inicio/sementes-de-urucu-urucum-bixa-orellana.html
Espécime da Coleção do Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Lisboa.

Folha de herbário de Bixa Orellana, planta recolhida durante a Viagem Filosófica ao Brasil por Alexandre Rodrigues Ferreira

A herborização desta planta evidencia o contacto que este naturalista teve com a região do povo indígena Munduruku. A conservação desta espécie não apresenta cuidados de maior.

Nas duas imagens, ambos os Índios exibem tatuagens faciais feitas a partir do corante extraído de Bixa orellana. Além de serem utilizadas em cerimónias, a tatuagem com o pó de urucu indica o clã a que o indivíduo pertence.

Arte plumária

A arte plumária tem a função de linguagem visual entre as tribos índias brasileiras. Executada com penas e plumas de aves, os Munduruku utilizam-na como ornamento dos seus muitos adereços - cintos, colares ou pulseiras. O toucado aqui representado pertence ao espólio do Museu de América em Madrid.

Com datação anterior a 1866 e referido para a zona do Rio Tapajós, esta manufatura, constituída por penas da colorida Araracanga (Ara macao), algodão e fibra vegetal, é destinada a adornar a cabeça em celebrações festivas.

O corte das penas varia em função da dimensão pretendida e a sua coloração varia em função do carácter simbólico do rito.

Araracanga (Ara macao). Fotografia: Fernando Favaro in Wikimedia. Web, 2019.
 

 
Toucado. Espécime 13812 da Coleção do Museu de América em Madrid. Fotografia: Joaquín Otero Úbeda.

Aldeias Munduruku no século XX

Ritual de dança Munduruku Fotografia: Acervo do Museu do Índio, 1928 In Povos Indígenas no Brasil. Web, 2019.
Aldeia Munduruku Fotografia: Protassio Frikel, 1950 In Povos Indígenas no Brasil. Web, 2019.

A propósito de um indígena Munduruku

Daniel Munduruku, nascido em Belém do Pará, é licenciado em Filosofia, História e Psicologia, mestre em Antropologia Social e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, onde é professor. É presidente do Instituto Uka – Casa dos Saberes Ancestrais.

Como escritor, destingue-se na área da literatura infantil relatando histórias indígenas. Destaca-se da sua obra: O Banquete dos Deuses (2000), alusivo às ferramentas de combate contra o preconceito sobre os povos indígenas, sobrepondo a importância do respeito pela variedade cultural.



Para Daniel Munduruku:
“(…) O primeiro passo educativo está em ouvir os jovens – ouvir os seus sonhos e ensiná-los a ouvirem-se a si mesmos. (…) Na sociedade indígena, educar é arrancar de dentro para fora (…).”

Deixamos um trecho de uma história interessantíssima de Daniel Munduruku, retirado do seu livro Catando Piolhos, Contando Histórias:

Toque no play para ouvir o trecho de uma história
 

 
MUNDURUKU, Daniel, O Banquete dos Desuses: conversa sobre a origem e a cultura brasileira, Global Editora, 2000.
O respeito pelos mais Velhos

Hoje vi um beija flor assentado no batente de minha janela. Ele riu para mim com suas asas a mil.

Pensei nas palavras de minha avó:

“Beija-flor é bicho que liga o mundo de cá com o mundo de lá. É mensageiro das notícias dos céus. Aquele-que-tudo-pode fez deles seres ligeiros para que pudessem levar notícias para seus escolhidos. Quando a gente dorme pra sempre, acorda beija-flor.”

 
 

Daniel Munduruku tem dado particular importância à educação das crianças e jovens.

São dele os seguintes excertos:

Educar é como catar piolho na cabeça da criança. É preciso que haja esperança, abandono, perseverança. A esperança é crença de que se está cumprindo uma missão; O abandono é a confiança do educando na palavra; A presença é a perseguição aos mais teimosos dos piolhos, é não permitir que um único escape, se perca.

Só se educa pelo carinho e catar piolho é o carinho que o educador faz na cabeça do educando, estimulando-o a palavra é pela magia do silêncio. Ser educador é ser confessor dos próprios sonhos e só quem é capaz de oferecer um colo para que o educando repouse a cabeça e se abandone ao som das palavras mágicas, pode fazer o outro construir seus próprios sonhos.

E pouco importa se os piolhos são apenas imaginários.