
Exemplar de Strychnos toxifera. Coleção Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Lisboa
O que é Curare?
O curare — termo derivado das palavras indígenas woorari, woorali, urari — significa veneno. É utilizado pelos povos indígenas da Amazónia para designar uma substância obtida a partir da planta Strichnus toxifera. Os povos indígenas utilizam-na para fazer o curare que colocam na extremidade das flechas das armas de caça conhecidas por Zarabatanas.
Na caça, a morte de animais resulta da paralisia e ulterior asfixia devido ao efeito bloqueador neuromuscular da mistura de materiais provenientes desta planta produtora do alcaloide tóxico tubocurarina.
Alexandre Rodrigues Ferreira na sua expedição à Amazónia não só recolheu Zarabatanas como também herborizou plantas de Strychnos toxifera, recolha esta documentada pela folha de herbário (ver figura à esquerda) que este botânico enviou para Lisboa e faz hoje parte do herbário do Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Lisboa.
Preparação do Curare
O curare não corresponde a uma substância e fórmula única. Existem vários curares mais ou menos complexos, próprios de cada região, de cada tribo ou mesmo de cada produtor. Tem-se designado por curare todo e qualquer veneno paralisante utilizado nas flechas dos indígenas da América do Sul.

Exemplar de Strychnos toxifera. Coleção Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Lisboa
Os índios Maku, considerados pioneiros na utilização deste veneno, preparavam o curare através da raspagem, secagem e cozedura de caules e folhas de plantas do género Strychnos.
Na preparação do curare são utilizadas cascas das raízes impregnadas de um suco gumoso avermelhado. Os Nambikwaras do Juruena julgam essencial colher as raízes de manhã ao nascer do Sol, antes que o dia se torne demasiado quente, pois só usam as cascas frescas.
Existem várias maneiras de preparar o curare. Há competição entre os povos indígenas que se consideram uns melhores produtores de curare do que outros.
O processo de produção é complexo e, em regra, é desenvolvido pela mulher índia mais velha do povo indígena.
Como durante a preparação se verifica normalmente o falecimento da índia devido à inação dos vapores tóxicos produzidos durante o processo de cozedura, ela é substituída pela segunda mais idosa da comunidade e assim sucessivamente, até que o curare fique pronto.
O resíduo obtido (cipó) é colocado numa panela, fervido, formando um xarope e, finalmente, uma pasta. Os índios utilizavam esta pasta de urari para revestir as pontas dos dardos e flechas.